Em mensagens de Whatsapp, Cid pediu a auxiliar que forjasse cartão de vacinação da esposa

Conversa consta em relatório da Polícia Federal, tornado público por decisão do ministro Alexandre de Moraes; ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi preso nesta quarta-feira em operação que apura fraude em carteiras de vacina

  • Por Brasília
  • 03/05/2023 17h47 - Atualizado em 03/05/2023 19h22
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Reprodução/TV Jovem Pan Mauro Cid Bolsonaro O ex-presidente Jair Bolsonaro e o tenente - coronel Mauro Cid

Mensagens do telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro na presidente da República, mostram que em novembro de 2021 ele pediu ao seu auxiliar, Luis Marcos dos Reis, na época supervisor da Ajudância de Ordens da Presidência da República, ajuda para fraudar comprovante de vacinação contra a Covid-19. O certificado deveria estar no nome da mulher de Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid. Os documentos e as conversas entre os funcionários foram tornados públicos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou nesta quarta-feira, 3, a operação da Polícia Federal (PF) que resultou na prisão de Cid e outras cinco pessoas, entre elas Max Guilherme, policial militar do Bope do Rio de Janeiro, e Sérgio Cordeiro, capitão do Exército. Os dois são seguranças pessoais de Bolsonaro desde quando era candidato a presidência da República.

As mensagens de Whatsaap que embasam a decisão de Moraes a prisão do grupo e o cumprimento de 16 mandados de busca a apreensão mostram que essa foi a primeira tentativa de Cid de fraudar os sistemas de imunização Sistema Único de Saúde (SUS). “Contigo aí, tá? Joga na minha conta. E vê aí em Goianésia se tem algum cara que não seja cadastrado no CONECTE SUS. Vou ver depois, no Exército se tem algum enfermeiro que você que fazer para mim”, diz Cid a Reis, que responde: “Eu já voltei já, coronel, mas eu deixei lá com meu sobrinho lá, ver se ele consegue lá. É, tem só essas duas pessoas tem o meu sobrinho e o Vandir lá. Aí tento aqui. Eu estou indo amanhã para a missão lá de Guaratinguetá! No retorno, a gente vai cair em cima disso aí, tá bom? Não falei para ele que ficou questionando porque nenhum coordenador ficou sabendo e tal. Eu falei assim, foi ordem do coronel e chegando aí pessoalmente, eu, eu explico para o senhor o que aconteceu. Falei, pro tenente Alencar, pode deixar que eu administro lá” (veja abaixo). O sobrinho citado é Farley Vinicius Alcântara, médico na cidade de Cabeceiras (GO).

Trecho de documento em posse da Polícia Federal

Ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do caso na tarde desta quarta-feira, 2

O relatório da PF também mostra que Farley inseriu no cartão adulterado em nome da esposa de Cid dados de uma carteira de vacinação de uma enfermeira da cidade de Cabeceiras. “Por fim, Farley Vinicius Alcantara, possivelmente, visando dar aparência de veracidade ao conteúdo ideologicamente falso, inseriu no documento sua assinatura com carimbo e número de seu CRM”, afirma a investigação. Dados sobre a localização do celular, obtidos pela PF, no entanto, comprovam que Gabriela estava em Brasília nos dois dias em que o cartão apontam que ela tomou vacina em Goiás. Na sequência, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro acionou Eduardo Crespo Alves, militar da reserva e advogado, com o intuito de inserir os dados no sistema do governo federal. Entre os dias 21 e 22 de novembro de 2021, Alves e Cid trocam áudios sobre as tratativas. “Chefe, 90% já confirmado, tá? É só deu um probleminha lá com o negócio do, da, do CPF, mas a pessoa teve que sair. E amanhã eu já resolvo, já dou pronto para o senhor, tá ok?”, disse o segundo-sargento ao ex-ajudante de Bolsonaro.

No dia 24 de novembro, Crespo Alves diz que uma pessoa, identificada apenas como “ela”, enfrentava dificuldades para inserir os dados no sistema do Ministério da Saúde. Neste momento, o próprio segundo-sargento diz que as plataformas do governo federal entendiam a manobra como uma tentativa de fraude. “Infelizmente, ela não está conseguindo porque o sistema daqui não aceita, não está aceitando, o, o, a vacina que ela tomou. O lote que veio para o Rio de Janeiro é diferente. Não tem esse lote aqui, então você, o sistema não aceita. Eles entendem como fraude, entendeu? Ela está pedindo aqui se a gente consegue a unidade que ela falou que vai fazer um contato lá com o pessoal do SUS. Mas precisa saber o nome da unidade”, diz Alves em áudio enviado a Cid.

Trecho de documento em posse da Polícia Federal

Ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do caso na tarde desta quarta-feira, 2

“Diante do exposto, os elementos informativos colhidos demonstram que Mauro Cesar Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, Luis Marcos dos Reis, Farley Vinicius Alcantara, Eduardo Crespo Alves e outras pessoas ainda não identificada se uniram, em unidade de desígnios, para tentar inserir dados falsos de vacinação contra Covid-19, em benefício de Gabriela Santiago Cid, nos sistemas de informação do Ministério da Saúde (RNDS e SI-PNI), incidindo na conduta tipificada no art. 313-A do Código Penal”, escreveu Moraes na decisão que autorizou a prisão preventiva de Mauro Cid.

O comprovante falso emitido e enviado a Mauro Cid em nome de sua mulher mostram duas aplicações da vacina Pfizer, em 17 agosto de 2021 e em 09 novembro de 2021, emitido por Duque de Caxias. As doses foram inseridas no dia 30 de novembro de 2011 nos sistemas do Programa Nacional de Imunizações e da Rede Nacional de Dados em Saúde do Ministério da Saúde. O relatório da Polícia Federal mostra, no entanto, que Cid e Gabriela criticavam os imunizantes. “Difícil mesmo. Só querem ser cobaias das vacinas”, diz a mulher no dia 29 de abril daquele ano. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro responde: “Vacina que dá dinheiro”. Em 7 de maio do mesmo ano, Cid manda uma mensagem de áudio a uma outra pessoa, identificada como “Liliane Cid”, no qual afirma: “Então não sou. Eu não vou tomar vacina mesmo. Eu e ninguém aqui [em] casa”. “Eu não vou tomar….. nem as crianças….. As vacinas ainda estão em fase de teste…… To fora…..”, reforça.

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