Desabamento em Miami completa dez dias com filho de brasileira desaparecido e obstáculos nas buscas

Prédio de 12 andares desabou na madrugada do dia 24 de maio, deixando pelo menos 18 pessoas mortas; socorristas ainda buscam por sobreviventes

  • Por Lorena Barros
  • 03/07/2021 07h00
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EFE/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH Escavadeiras retiram escombros de desabamento de prédio em Miami Buscas por sobreviventes entram no 10º dia neste sábado

Bombeiros e socorristas iniciam neste sábado, 3, o décimo dia de buscas por sobreviventes no desabamento de um prédio no condado de Miami-Dade, na Flórida. As Champlain Towers, havia 40 anos de pé em 12 andares diante da popular praia de Surfside, foram construídas com 136 residências de um, dois ou três quartos, distribuídas em espaços entre 100 m² e 200 m². Na última quinta-feira, 24, desabaram 55 desses apartamentos. O motivo da queda ainda é investigado pelas autoridades, mas barulhos semelhantes ao de uma construção e rachaduras em paredes foram ouvidos e vistos por sobreviventes poucos segundos antes do desastre. Até o momento, 22 corpos foram resgatados dos escombros e 126 pessoas ainda são consideradas desaparecidas. Nenhuma foi resgatada com vida após o primeiro dia de buscas, mas as equipes continuam alimentando otimismo no local.

Prédio dava sinais de problemas

O motivo do desabamento ainda é uma incógnita para os investigadores. As primeiras informações davam conta de que o prédio passava por uma revisão estrutural porque já tinha 40 anos de construção. Uma reforma na área do telhado estava em curso na semana da tragédia, mas não há evidências de que isso tenha causado o desmoronamento. Inspeções realizadas entre os anos de 1993 e 1999 mostraram que o edifício estava “afundando” dois milímetros por ano, o que é considerado natural para construções na região. Uma carta escrita pela presidente do Conselho do condomínio, Jean Wodnicki, enviada a moradores no mês de abril, detalhou uma série de problemas estruturais avançados, registrados desde 2018, principalmente na área da garagem e da piscina. O reparo total do condomínio custaria US$ 15 milhões (equivalente a R$ 75 milhões).

Câmeras flagraram momento do desabamento e resgate de adolescente

Câmeras de segurança de outros edifícios de Surfside flagraram o momento do desabamento, por volta da 1h30 da madrugada. Nos vídeos, é possível ver que o desmoronamento dura poucos segundos, e uma fumaça branca sobe após a queda do prédio. As primeiras horas após o acidente foram cruciais para retirar sobreviventes do local. Cerca de 35 pessoas foram salvas, entre elas, um adolescente de 15 anos identificado como Jonah Handler. O momento do resgate dele também foi registrado em vídeo. A mãe de Jonah, Stacie Feng, de 54 anos, foi a primeira vítima retirada sem vida dos destroços a ser identificada. Em comunicado à imprensa norte-americana, a família dela agradeceu pelas condolências e palavras de encorajamento enviadas após o acidente.

Ajuda estrangeira nas buscas

Referência no resgate de vítimas de tempestades e desastres naturais, os bombeiros de Miami costumam viajar para países do exterior e auxiliar em operações do tipo. Neste caso, porém, especialistas em resgates sob escombros foram trazidos do Chile e de Israel para ajudar os norte-americanos. Como o desabamento ocorreu durante a madrugada, as equipes de resgate acreditam que as vítimas estejam soterradas na região onde ficam os quartos. Em entrevista ao canal norte-americano CNN na quinta-feira, o Comandante da Unidade de Resgate de Israel, Golan Vach, afirmou que alguns quartos estão soterrados sob quase cinco metros de entulhos.

Obstáculos dificultam resgate

As equipes têm cuidado redobrado para evitar que, ao retirar um pedaço de concreto de algum lugar, as pilhas de entulho se desloquem, o que pode prejudicar alguma vítima que ainda esteja lutando pela vida. Como a queda do edifício foi parcial, o trabalho de socorristas é constantemente ameaçado por possíveis quedas de escombros. Engenheiros avaliam periodicamente como operar na área. Nesta quinta, os oficiais notaram movimentações de até 30 centímetros nos entulhos e perceberam que uma viga da parte do edifício que não desabou ameaçava cair, o que suspendeu momentaneamente as buscas. Segundo a prefeita de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, as equipes cogitam demolir a estrutura que ainda está de pé para evitar que paralisações como esta ocorram. O tempo também não tem sido amigo do resgate, já que, neste período do ano, é comum que tempestades com raios atinjam a região, o que paralisou as buscas pelo menos duas vezes, uma delas pouco após o acidente. Há ainda a iminente ameaça de um furacão. Além disso, os bombeiros também precisaram controlar um incêndio no subsolo do prédio nos primeiros dias de resgate.

Dezenas de latino-americanos estão desaparecidos, entre eles o filho de uma brasileira

Pelo menos 29 pessoas latino-americanas foram declaradas como desaparecidas após o desabamento. Eles são do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Até o momento, apenas os corpos de dois venezuelanos, identificados como León Oliwkowicz, de 79 anos, e Cristina Oliwkowicz, de 74, foram encontrados. Entre os desaparecidos estão parentes de políticos sul americanos: Sophia López Moreira, cunhada do presidente do Paraguai, Mário Abdo Benítez, estava no local com o marido, os três filhos e uma empregada doméstica. Além dela, o chileno Claudio Bonnefoy Bachelet, primo de segundo grau de Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, e de primeiro grau do pai dela, Alberto Bachelet, também é procurado. De acordo com o Censo dos Estados Unidos, 25,8% da população da Flórida têm origem hispânica ou latina.

brasileira que morava em prédio que caiu em miami

Amigos fizeram vaquinha virtual para ajudar brasileira que sobreviveu a desabamento em Miami

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou à Jovem Pan na última segunda-feira, 28, que tomou conhecimento de que sete brasileiros que moravam no edifício. Seis deles estavam em segurança. Familiares de uma possível vítima fatal seriam contatados para que o apoio cabível fosse prestado. O sétimo brasileiro pode ser o menino Lorenzo Leone, de quatro anos, filho da carioca Raquel Oliveira e do italiano Alfredo Leone, que moravam no prédio havia cerca de um ano. Uma lista disponibilizada pelo jornal local “Miami Herald” elenca o nome dos dois e afirma que Raquel estava longe da cidade no momento do colapso. Amigos da brasileira fizeram uma vaquinha virtual para ajudá-la, já que ela, que tinha viajado para outro estado para ver os pais no dia da tragédia, ficou apenas com uma mala de roupas. Mais de US$ 50 mil (equivalente a R$ 250 mil) foram arrecadados até o momento.

A reportagem voltou a contatar o Itamaraty nesta quinta-feira, 1º, em busca de mais informações sobre as buscas por Lorenzo. Em nota, a pasta respondeu que “não fornece detalhes sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros”. Um dos sobreviventes foi o brasileiro Erick de Moura. Em entrevista ao canal norte-americano CNN, ele disse que foi à casa da namorada assistir à Copa América e decidiu voltar após a partida, mas desistiu quando ela o persuadiu a dormir com ela. “Eu queria tomar um banho e dormir confortavelmente, mas ela ficou insistindo para que eu ficasse”, disse. Também na entrevista, contou que acordou por volta das 5h30 e viu as mensagens relatando o que aconteceu.

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