O que é o Talibã que retomou o controle do Afeganistão e o que esperar do novo regime

Líderes do grupo prometeram respeitar os direitos das mulheres e garantiram que não haverá retaliação; porém, há registros de repressão violenta às manifestações contra os extremistas

  • Por Lívia Zanolini
  • 25/08/2021 15h27 - Atualizado em 25/08/2021 15h55
EFE/STRINGER Combatente talibã monta guarda em Cabul Depois de dominar o Afenagistão por cinco anos, o Talibã foi retirado do poder pelas tropas militares dos Estados Unidos, em 2001; na época, o grupo era acusado de abrigar facções terroristas, como a Al Qaeda, que foi a responsável pelos ataques de 11 de setembro 

O Talibã é um movimento fundamentalista islâmico criado, oficialmente, em 1994. Em sua origem, o grupo era formado por combatentes afegãos que lutaram contra a ocupação da União Soviética no país, na década de 80, e refugiados afegãos que estudavam em escolas islâmicas paquistanesas, as quais defendiam ideias restritivas e rigorosas. Não à toa, o termo “talibã” significa “estudantes”. Em 1996, o grupo assumiu o governo do Afeganistão, com a promessa de colocar fim à guerra civil e de unificar os diferentes grupos com atuação no país. Mas, diferentemente do discurso, durante cinco anos, o domínio dos extremistas foi marcado pela imposição da visão fundamentalista do islã. As execuções públicas eram comuns, os homens eram proibidos de tirar a barba, as mulheres não podiam trabalhar, nem estudar, e eram obrigadas a usar burcas.

Com a ocupação do Afeganistão pelas tropas militares dos Estados Unidos, em 2001, o grupo foi retirado do poder. Na época, o Talibã era acusado de abrigar facções terroristas, como a Al Qaeda, que foi a responsável pelos ataques de 11 de setembro no mesmo ano. E essas foram as principais justificativas para a invasão americana: responder ao atentado às torres gêmeas e evitar novas ações terroristas. A interferência da Casa Branca possibilitou que, ao longo de duas décadas, os afegãos acompanhassem a construção de um governo democrático, inclusive com a realização de eleições. Mas, ao mesmo tempo em que permitiu avanços nas áreas de direitos humanos e políticos, a presença de soldados americanos no país fez muitas vítimas. Calcula-se que em torno de 50 mil civis afegãos morreram no período. Com a retirada das tropas americanas, em agosto deste ano, o Talibã, que vinha atuando na clandestinidade, retomou o poder.

Desde então, as cenas de desespero de pessoas tentando fugir do país chocaram o mundo. Líderes do grupo prometeram respeitar os direitos das mulheres e garantiram que não haverá retaliação. Porém, já há registros de repressão violenta às manifestações contra os extremistas. Por enquanto, as declarações moderadas dos fundamentalistas não convenceram a maioria dos afegãos, nem a comunidade internacional. Para a professora do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Arlene Clemesha, ainda é difícil saber como o novo governo realmente vai atuar. “O grupo que agora é governo está tentando se colocar como governo, se colocar dentro da comunidade internacional. Portanto, ele está emitindo essas declarações de apaziguamento, tentando acalmar a população, dizendo ‘não, não vamos operar de maneira impositiva, autoritária, os direitos das mulheres vão ser resguardados’. Mas a frase continua. Serão resguardados segundo a lei islâmica. Nas grandes cidades existe uma população crescida e formada sobre um governo democrático, ou, pelo menos, em grande medida. E ele vai ter que lidar com isso. Ele sabe que vai ser mais difícil hoje do que 20 anos atrás impor, enquanto palavra final, a sua visão restritiva e fundamentalista do islã”. Tá Explicado?

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